Vídeo-cassete

Quando eu tinha uns 10 anos, a moda era vídeo-cassete. Vídeo-cassete de 2 cabeças, 4 cabeças, slow motion, o escambal. Era caro e difícil de comprar, ajustar a hora era uma aventura, mas num mundo dominado por 1 canal de TV e meio passando os mesmos filmes sem parar, video-cassete era o ápice do entretenimento domicilar.

Meu pai comprou um vídeo-cassete a prestação. Não sei quanto foi, mas sei que foi caro. Pra ele, que não podia ouvir os filmes da TV aberta, ver filme em VHS (com legendas) era uma bênção.

O uso da máquina se entrincherou na família. Toda quinta-feira, viajámos para a vídeo-locadora para alugar filmes para ver no final de semana. A maioria das vídeo-locadoras locais tinha uma promoção onde se você alugasse 3 ou mais filmes na quinta-feira só precisava devolver na segunda-feira, então era um bom negócio.

Eu sempre curtia chegar na locadora e poder escolher o que assistir. Escolha! A agência pessoal era algo tão absurdo para mim. Geralmente eu escolhia um título, minhas irmãs escolhiam outro, e meu pai outro.

Filmes do Van Damme eram sempre meus favoritos. Acho que assiti todos os filmes dele em VHS. Era bacana também assitir com o áudio (e efeitos) originais, ao invés daquela coisa dublada da TV aberta que inevitavelmente removia o som ambiente. Acho que me ajudou a aprender inglês também.

Alugar filmes recém-lançados em VHS era bem difícil. Filmes eram absurdamente caros, me lembro, e o normal eram as locadoras só terem uma ou duas cópias dos filmes mais recentes. Dos outros filmes normais era também só uma cópia, e era comum o filme que você queria já estar alugado por outra pessoa. Você tinha de fazer amizade com a pessoa que trabalhava na locadora pra ele(a) poder “reservar” um filme pra você.

Quando morávamos em Mogi das Cruzes, era muito comum tempestades com relâmpagos. E como não era uma área muito urbana, não existiam muito pára-raios, então no evento de uma tempestade você tinha de tomar cuidado. Ficar dentro de casa, não segurar tesoura ou outros objetos de metal, sair da piscina, essas coisas.

Um dia, assistindo ao VHS, um relâmpago caiu na rua em frente da nossa casa. Não lembro bem dos detalhes, mas lembro que o relâmpago causou uma oscilação na energia (também bem comum em Mogi) e queimou nossa TV nova (comprada pra assistir aos filmes com mais qualidade) e nosso vídeo-cassete imediatamente.

Acho que nunca vi meu pai tão triste. A gente não tinha nem acabado de pagar aquela TV e aquele vídeo-cassete. E ambos jaziam queimados.

Na semana seguinte meu pai foi e comprou outra TV e outro vídeo-cassete. Não sei quanto tempo demorou pra pagar. Sei que foi um baque. Mas continuamos assistindo e alugando os filmes como se nada tivesse mudado.

Não sei nem porque estou escrevendo isso aqui. Mas é um dos momentos felizes que me lembro da minha infância. Ir na locadora escolher os filmes.

Valeu, pai.

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